Powered By Blogger

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Resumo Crítico das Obras:

ROCHA, Ruth. Quando a escola é de vidro. In: Este Admirável Mundo Louco. São Paulo: Salamandra, 2003.
SOARES, Magda Becker. Avaliação educacional e clientela escolar. Disponível em: http://www.pbh.gov.br/smed/cape/artigos/textos/magda.htm : Acesso em: 16 ago 2011.


OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS DA EDUCAÇÃO

O presente trabalho objetiva apresentar uma análise crítica referente a duas obras de gêneros distintos mas que apresentam uma estreita relação quanto às contribuições trazidas para o campo educacional, sendo elas: um artigo científico da pesquisadora Magda Becker Soares e uma obra literária da escritora Ruth Rocha. Elas buscam, nas referidas obras, refletir sobre questões polêmicas que afetaram (numa determinada época) e continuam afetando o contexto educacional nos dias de hoje.

O artigo intitulado "Avaliação Educacional e Clientela Escolar", de autoria da pesquisadora Magda Becker Soares, foi apresentado no Simpósio cujo tema foi: "A utilização da avaliação educacional para incrementar as oportunidades educacionais e sociais", ocorrido na Universidade de São Paulo, em novembro de 1978 e posteriormente passou a integrar o livro Introdução a Psicologia Escolar, de Maria Helena Souza Patto.

A autora discute, no referido artigo, o papel da avaliação no contexto educacional, buscando refletir se está mais voltado a incrementar as oportunidades educacionais e sociais ou ao controle do conhecimento e, de certa forma, ao controle das hierarquias, fundamentando seus argumentos em diferentes autores, como Bourdieu (1975), Young (1958), Bloom (1971), Charlot (1977) e outros.

A obra literária da escritora Ruth Rocha "Quando a escola é de vidro", editada pela primeira vez em 1986, pela editora Salamandra, nos revela o perfil crítico da escritora, que narra de uma maneira metafórica as mudanças de paradigmas vivenciadas na educação a partir da década de 80, num período de transformações no campo da política e que provocaram grandes repercussões nos sistemas educacionais. Ruth Rocha, com formação em Sociologia e experiência como Orientadora Educacional durante 15 anos, retrata em sua obra conflitos e desafios vivenciados no contexto escolar num período de transição de um regime político ditatorial para o democrático, que teve consequência a democratização do ensino público brasileiro. Rocha retrata a repetência escolar como algo que mais sufocava os estudantes do que proporcionava nova oportunidade de aprendizagem, levando inclusive à evasão escolar.

Em seu artigo Avaliação Educacional e Clientela Escolar a pesquisadora Magda Soares defende a ideia de que "a avaliação limita as oportunidades educacionais e sociais, na medida em que legitima determinada cultura em detrimento de outras, e legitima determinada forma de relação com a cultura, em detrimento de outras formas"(p.52). Afirma, ainda, que o princípio da igualdade de oportunidades educacionais pressupõe desigualdades entre os indivíduos para fazer uso dessas oportunidades. Desigualdades essas que, na época, eram vistas como naturais e sem responsabilização da escola por este fenômeno.
A autora apresenta no texto a grande contribuição das Ciências Sociais: "o desmascaramento da ilusão ideológica de que as desigualdades de rendimento escolar se explicam por desigualdades naturais, desigualdades de dons, de que a escola nada mais faz que transformar as desigualdades de fato em desigualdades de direito"(p.55).

Para Bourdieu (1975) a avaliação é instrumento de dominação a partir da legitimação da cultura da classe dominante em relação a outras. Esta questão é demonstrada também no texto de Ruth Rocha, como por exemplo, no trecho “...aliás, nunca ninguém se preocupou em saber se a gente cabia nos vidros", "a gente não escutava direito o que os professores diziam, os professores não entendiam o que a gente falava..." (ROCHA, 1986). Logo, o fracasso ou sucesso escolar é atribuído ao dom natural e ao mérito do indivíduo por se tratarem de linguagens diferentes.

A autora evidencia no texto, colocando a avaliação como instrumento de dissimulação, camuflagem e mistificação, uma vez que a escola avalia igual, pessoas com oportunidades desiguais. O texto apresenta alguns aspectos negativos da avaliação, para contrapor ao tema do Simpósio. Mesma crítica feita por Ruth Rocha, quando apresenta alunos diferentes, sendo colocados em "vidros" iguais, ou seja, sendo tratados com falsa igualdade de direitos. Ela afirma que há escolas que atendem a clientela de classes sociais privilegiadas e escolas que atendem a clientela socialmente desfavorecida, e que, tanto o ensino quanto a avaliação, ajustam-se às características da clientela. No caso, então, das classes desfavorecidas, essa conduta cria a ilusão do sucesso escolar. Ilusão que é desmistificada quando o estudante submete-se a seleção fora da escola ou fracassa na vida profissional. Isso ocorre devido a ideologia do dom e da meritocracia que, durante muito tempo, serviram para justificar o fato de a escola encarar como natural a desigualdade dos resultados e, por isso, isentar-se de sua responsabilidade. A Escola de Vidro, de Ruth Rocha, ilustra essa visão da escola em relação a repetência escolar. Os alunos repetiam de ano porque eram incapazes e isso era visto com muita naturalidade por parte da escola. Tanta naturalidade, que a esse aluno era oferecida oportunidade de rever tudo da mesma forma, ou seja, "permanecer nos mesmos vidros", tentar aprender novamente da mesma maneira, independente de suas experiências vivenciadas na escola e fora dela.

A autora no seu artigo mostra, ainda, que nas discussões acerca da avaliação educacional, discute-se apenas os fatores internos do processo educativo (avaliação/objetivos/metodologia de ensino), desconsiderando os fatores externos, decorrentes da situação econômica dos estudantes, reduzindo a situação escolar a uma situação objetiva entre o estudante e o conhecimento, ocultando os demais fatores existentes nesta relação.
Os dois textos chamam a atenção para o fato da escola, muitas vezes, valorizar a cultura dominante em detrimento das demais. Os "Firulis" (personagem da obra de Ruth Rocha) estão na escola, mas não há "vidros" para eles. A escola muitas vezes não dá voz nem vez para aqueles que não correspondem às exigências e expectativas da escola. Este personagem que há apenas algumas décadas passou a frequentar a escola, é desconsiderado tanto pela escola de vidro como a analisada por Soares.
A avaliação, no texto de Magda Soares, funciona como o vidro de Ruth Rocha: demarca limites de cada aluno, padroniza, hierarquiza socialmente. A avaliação, como o vidro, restringe e mantém as desigualdades exercendo dessa forma o "controle do conhecimento", sendo uma forma de dominação e poder.

Há, ainda, um fator perverso analisado no artigo em que se aborda a questão da exclusão de uma parcela de alunos independente de avaliação. Tal conduta é denominada por Bordieu de "eliminação sem exame¨ (BOURDIEU, 1975), uma vez que a seleção que acontece antes mesmo da avaliação funciona como um sistema socialmente excludente. Neste contexto, conclui-se que os alunos das classes desvaforecidas já se sentem excluídos da escola pelo próprio contexto em que estão inseridos.

Comparando-se os gêneros textuais, é de se notar que, embora escritos em épocas diferentes, se assemelham. Ambos abordam a questão da diversidade ao tratar dos tipos distintos de alunos que compõem o cenário da educação. O texto da Ruth Rocha desvela a questão da repetência e seu tratamento como uma prática escolar usual. Vale ressaltar que o respeito e a equidade são violados quando os professores determinam que "todos devem ficar nos vidros", dando tratamento igualitário aos desiguais.

Por seu turno, Magda Soares convida a uma reflexão sobre como o instrumento de avaliação é comumente utilizado como forma de controle e seleção dos chamados ¨bons ¨e ¨maus¨ alunos. Isto porque leva-se em consideração as condições socioeconômicas dos mesmos. A avaliação assume, portanto, um papel regulador do processo educacional, ao ocultar uma série de outras intenções que favorecem as classes dominantes e sua cultura.

Portanto, os textos são complementares e de grande valia, pois analisados sob outro prisma, faz-se entender que é necessário romper com a hegemonia dominante que ainda prevalece na educação e construir uma escola que possa ser verdadeiramente democrática, estabelecida dentro dos preceitos da igualdade e da equidade.
Reponsáveis pelo trabalho: Edvania de Lana Morais Andrade,Iara Pinheiro,Lucília Maria Mota, Maria Luiza Barbosa,Vanessa Ribeiro
Trabalho proposto pela profª Terezinha Barroso, na disciplina Gestão Pedagógica para o Letramento, no curso de Mestrado em Gestão e Avaliação da Educação Pública, da UFJF

5 comentários:

  1. Não deixe de acessar o texto completo da pesquisadora Magda Soares. Acesse o link abaixo:

    http://www.pbh.gov.br/smed/cape/artigos/textos/magda.htm

    ResponderExcluir
  2. Olá, Edivânia.
    Muito bom o seu blog.
    Acho que os mestrandos deveriam te visitar mais vezes.
    Sempre que puder, darei uma passadinha por aqui.
    Abraço, Karina

    ResponderExcluir
  3. Obrigada, Karina. Seja sempre bem vinda a este espaço. Abraços Edvania

    ResponderExcluir
  4. meu deus que resumo critico e esse ,muito grande nâo gostei

    ResponderExcluir